ex-encontro

Hoje quero sentir o cheiro de minha poesia,
tocar sua pele
e fazer com ela a rima perfeita.
Amo-te, oh musa distante!
Amo-te por beleza da alma, por desejo do espírito
Deixa-me fazer-te a escansão
E penetrar teus versos, desvendá-los
Para que nunca mais me afaste da sonoridade de tê-la
Deixa-me proferir a assonância
De cantar-te ao mundo nos meus versos

És minha

Falo de ti, pois sei que és minha, poesia
E és minha porque somente eu sei tua rima
E entendo a medida de teus versos

Escrever-te é minha sina, é sanha, é meu segredo
Cantar-te em versos reflete o que sou
Mesmo que fique inexato entre angústia e medo

Criei-te para servir-te, musa distante
Faço-me escravo de tuas letras
E espero o momento em que saias do papel
Para que te possa tocar e sentir o perfume
Das flores que escrevi em ti.

Soneto primeiro

Se me seguem distância e solidão
Meu peito agora chora inerme e frio
Ao vento que sussurra ao meu estio
E promete que teus beijos virão

Se me segue o toque do sonho vão
De selar-te a boca a lábio tardio
Calo-me o peito e olho-te e sorrio
Pedindo que emudeça o triste não

Mas se acaso o desejo reprimido
Suplicar no teu lábio o toque meu
Entrego-te corpo e alma, embebido

Nas delícias da paixão que nasceu
Como um sonho que pensei perdido
Mas fechou ouvidos a teu adeus.

Soneto segundo

Amor escravo de um beijo inocente,
Perca-se no vale dos sonhos vis
Cedendo aos encantos de seus ardis
Clamando desejos inutilmente

Oh! Paixão cativa de um beijo ardente,
Que fica mouca ao que o Coração diz,
Veja a tormenta em que vive infeliz,
Verta suas lágrimas eternamente

Porém se por razão as mãos se derem
E olharem-se nos olhos com ternura
Entenderão que juntos são Coragem

Que ao mais amar, mais a Paixão dura
E incendeia mais que o fogo de ontem
Pois Paixão com Amor torna-se pura

Para fora

(tela de Fabrizio Castorina)

À procura do lirismo perfeito

Algo capaz de expressar com exatidão

O peso que faço sobre a caneta

O amargo da tinta vã que borra o papel.

A palavra que faltou à boca;

A sinceridade que te faltou à alma;

A realidade que nos faltou ao sonho;

A falta que fez não ter sentido falta.

Versos sem cuidado

Vazios. Quem sabe?

Pobres, diriam.

Mas, livres.

Agora param de gritar em minha cabeça

Como um cão enfurecido com a menina

que passa batendo a trave no gradio.